segunda-feira, 20 de maio de 2013

Da natureza selvagem 2



Os homens nascem maus. Outros bons. Mas nenhum tão mau ou tão bom que não possa mudar de ideia ao longo do caminho.

A vida é quem se encarrega de mostrar coisas, tirar coisas, formar e deformar caráteres. Os homens recebem isso, assimilam e por fim escolhem (escolhem?) um lado.






Há também aqueles que resolvem largar o jogo no meio e ficar pelo caminho.






Só fico meio chateado por que ninguém me disse que as regras poderiam mudar...



terça-feira, 7 de maio de 2013

Caos interno





Estava ali presa naquele labirinto a alguns dias. Não tinha vontade de sair, não sentia fome, não queria sequer abrir os olhos.
Queria sim que tudo acabasse logo, que a dor parasse e que tudo ficasse em silencio.

O mundo explodia em alegria lá fora, os amigos ligavam, um após o outro, e ela não sentia vontade de falar com ninguém.

Olhou pra o porta retrato aprisionado na mesinha de cabeceira, estava vazio; queimara todas as fotos faz tempo, mesmo assim conseguia enxergar os rostos que antes preenchiam aquela moldura, agora tão rancorosa. Talvez fosse melhor tirar todas as coisas do quarto - que agora era labirinto - talvez fosse melhor ligar e dizer tudo aquilo que estava engasgado a três, quatro anos... Talvez fosse melhor se matar mas achou isso tudo muito clichê, se conteve a escutar o silencio mórbido das persianas.

Olhou pra fora, pela janela; havia luz, havia cor, havia felicidade e isso tudo lhe agrediu muito, preferia o caos e o conforto da escuridão.

O celular piscou dando sinal de mensagem recebida, ela conhecia aquele número. Destravou e selecionou "ler agora":

"Anoiteceu e ele fugiu. Se abrigou naquele quarto onde por tanto tempo eles foram um.
Acendeu todas as lampadas, ligou a tv, quiz luz, quiz se esconder da noite.
Não havia como se esconder pois a escuridão estava dentro dele."

Pensou um pouco, chorou, tomou outro comprimido e dormiu.


terça-feira, 16 de abril de 2013

Protocolo Jatene n° 091.88166133


VOGONS


A mulher velha na recepção sorri sem dentes com o meu bom dia. Eu nem gostaria de lhe olhar na cara, mas preciso acessar recursos em órgãos públicos, e nada melhor, para ser bem e rapidamente atendido, que bajular gente sem poder  e com carência de respeito. Na verdade este raciocínio funciona para tudo na vida; pegue um  marginal, um ladrão de galinha qualquer e mostre um falso respeito por este trabalho que ele exerce, diga como se diz nas quebradas: “Eu te considero” e ele nunca roubará de ti, pegue uma puta e a trate como dama ela vai se esforçar para te dar a melhor trepada da tua vida.

Um órgão publico é como um organismo em estado de metástase; apodrecendo rapidamente, e cada parte se ligando à parte seguinte, levando seu chorume, sua sanha...
Funcionários públicos são criaturas horripilantes, gostam de cheirar papeis inúteis, gostam de se perder em corredores infinitos de arquivos mortos, proliferam no meio do lodo e na merda que as baratas depositam nas fichas de cadastro, adoram conferir as assinaturas, as cópias autenticadas e babam e mostram a  bunda para quem lhe fizer o menor elogio, para quem lhes der o mais cínico dos sorrisos  interesseiros.

Aqui sentado em cima do mofo, percebo a fila se formar longa e sem personalidade; uma enguia sem cabeça e sem rabo se debatendo, murmurando maldições.

- Senhor (com voz monstruosa) para ter acesso ás entranhas do porco ele não preciso estar morto, vai gritar e morder e por isso mesmo é preciso segurar firme e enfiar a estaca no reto do animal.
- Mas senhora (com voz submissa) Nós já demos entrada no pedido de licença para comprar as estacas especiais, destas que entra e vai rasgando a carne do bicho, causado dor e  hemorragias...
- Deve ter acontecido de termos perdido os seus papeis, vais ter de dar entrada nisso tudo novamente.
-Mas e o porco, vais emagrecer nesse tempo?
- Meu caro, Isso não é problema meu! – e quase quebra a mesa com uma carimbada: INDEFERIDO!

Assim são funcionários públicos... Assisto isso tudo aqui de cima do mofo ao tempo que desejo matar todos eles.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

*Eu estou num sonho






Eu sei que é um sonho porque tudo está muito lento e não há dor aqui, nem sons. Apenas medo.

Estou no caminho que leva para uma casa onde morei na minha infância. Uma casa afastada da cidade, cheia de árvores ao seu redor, jardins de flores selvagens e um igarapé cujo correr das águas barrentas se ouve por todo o bosque. Estou no portão de entrada, parado e olhando para a entrada principal da casa.

Já estou dentro, na sala onde nos reuníamos para assistir aos programas de domingo... irmãos, mãe, pai, primos... todos juntos rindo, alegres bobos diante de um tubo de imagens brilhantes e insossas. Mas agora está tudo em silencio; sem risos infantis, sem apresentadores senis chamando a bizarrice do momento, tudo está quieto e vazio... Eu posso sentir que praticamente não existo e me alegro ao perceber que sinto que isso é bom.

Mas há algo de errado, não estou sozinho.

Vou para o andar de cima, onde ficava meu quarto. Parado ao pé da escada, me pergunto se ela é realmente grande ou se sou muito pequeno; cada degrau para cima me leva a três degraus para baixo, cada passo me deixa mais distante do meu objetivo. Nunca foi tão difícil subir estas escadas, nem nos piores momentos da minha infância. Havia no andar de cima cinco quartos, o meu era o que ficava no fim do corredor. Era o mais amplo e tinha uma varanda donde eu podia colher com as mãos os frutos de uma imensa goiabeira, a  qual derramava alguns galhos nessa varanda da minha infância; goiabas, cajus e ovos de algum pássaro desavisado que fizesse ninho na varanda – era como alimentava os monstros que eu criava em baixo da minha cama.

Por que sempre volto ao mesmo lugar?

A porta do meu quarto está entreaberta, há movimento do outro lado da porta... Posso ver duas sombras fracas andando agitadas de um lado para o outro. Ergo minha mão na direção da porta e minha mão parece tão mais lenta e pesada... Quero escancarar a porta – “NÃO VOLTE PARA CASA” - grita uma mulher do outro lado do corredor.

Estou num sonho.

sexta-feira, 15 de março de 2013

OS OLHOS SÃO;





Porta que não se fecha, rastro de se perder. "Abismo de coisas medonhas", anzol sem volta... - Boa hora senhores, como vão minhas senhoras?

- A VIZINHA LOUCA me diz que é preciso ressuscitar velhas conversas, velhas maneiras de tocar o sexo com a língua... Hora quente, hora fria. - "ORGASMIZE-SE..". Grita a vizinha louca.

Não parece, mas os olhos dão a entender toda a agonia dum organismo em dor. Dão também a entender toda verdade dessa vida quando ela olhada de dentro pra fora, basta querer ver. Queres?

Espere, que personagens vejo?! Um ladrão, uma puta, um bêbado e um louco. Mas que fantástica trupe esta que vem viajando de tempo em tempo através dos primórdios; Senhoras e senhores eu vos apresento o nascimento do teatro.

Sim reconheço cada uma dessas personagens, ainda são os mesmos e estão por toda parte, conheço uma em especial, a alegre puta. Amor foi a palavra que me veio a cabeça quando a encontrei a exatos 17 anos. Jurei lealdade a essa moça de vestes esvoaçantes e boca gostosa.

Minha menina, minha moça, minha puta! És pra mim isso que sou pra ti; um problema, uma dívida, uma vontade contida de gritar e gozar o dia inteiro. - Minha língua, este satélite dando voltas e mais voltas nos teus seios. -

Esta noite farei poemas e beberei vinho lembrando-me das horas em que descançávamos um carne sobre a  outra sem pressa, sem medo e sem votade de parar. Beberei vinho e esperarei pelo momento em que novamente estaremos juntos, na mesma casa, na mesma ilha que é quando farei morada no teu templo.

Já passamos muito tempo separados, e  ora, admitamos que cada um desses dias separados é uma exceção á vida e tal exceção é no mínimo ridícula.

Vejo tudo isso e não consigo não ver.



sexta-feira, 1 de março de 2013

Sem Medo



Naquela casa, naquele quarto fechado e sem o menor perigo de interferencia do mundo, ele descansava.

Deitado na cama, com a cabeça apoiada num travesseiro surrado e molhado de suor, ele atento a observava. Enquanto ela se arrumava, colocava o brinco na orelha esquerda, passava a mão no cabelo, ele olhava a suas costas nuas e pensou que não havia no mundo inteiro um lugar onde desejasse estar, senão ali, olhando aquelas costas brancas e nuas.

Lembrou da primeira vez que viu aquela pele branca e da primeira vez que desejou transar com aquela mulher, foram momentos diferentes. Emoldurou na retira o momento primeiro em que beijou aquela nuca, tocou aqueles mamilos rosados e ainda lembra com perfeição do timbre do primeiro gemido arrancado daquela garganta... sentiu tesão novamente.


-Não sai, nada faz muito sentido lá fora.
- Não tenha medo meu bem, descansa que eu te quero bem quando voltar.
- Tchau.
- Tchao...

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

UMA ÓTIMA ATRIZ



Lucides perigosa,
naquele tempo tu tinhas cheiro de sonho e lagrimas. 


Fui eu quem ficou acordado até mais tarde e esperou e fui  eu quem desejou ter morrido no final de cada ato.




Black/ luz sobe em resistência/ pino



Atriz - Eu fui feliz. Eu juro que fui feliz.




Eu acreditei quando na cena, sete vezes, tu juraste que me amava mas não era pra mim que olhavas na plateia.



Um bom roteiro, uma personagem muito bem desenhada, texto muito bem decorado e dito.


Parabéns, belo espetáculo.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Só que não é tão simples...




Descobri que algumas coisas na vida da gente (dentro ou fora...)
Não precisam ser necessariamente substituídas,
Ela podem ser movidas, tocadas, reativadas e algumas vezes elas vão mudar totalmente o seu significado.





quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Caminho de volta



O garoto correu a noite inteira por dentro do mato. Sem direção, sem olhar para onde, apenas correu.

Quando o sol já despontava às suas costas ele parou. Parou por que se viu diante de um enorme muro e lá em cima do muro uma cerca, de onde pendia uma placa suja e enferrujada: "CUIDADO, ALTA TENSÃO - PERIGO DE MORTE"


Neste muro há entrâncias, pedaços quebrados que poderia ser usado numa tentativa de escalada.

O garoto quer muito chegar ao outro lado e talvez por isso não tenha reparado na placa... Dispara, num repente, na direção do muro...

 - "Não, Ben!"

Ele pára assustado, ergue os olhos e vê diante do muro sua mãe. O menino nunca antes vira sua mãe. Pois morreu quando dava à luz a ele, mas, de alguma maneira ele sabia, com toda certeza, que aquela mulher de olhos tristes era a sua mãe.

 - Não Ben! Ainda não está no tempo.

Ele recua e chora. Chora por que a vida tem sido demasiada dura consigo, chora por que a tristeza que sente é insuportável para uma garoto de oito anos, chora por que acredita que a morte é o caminho mais rápido para uma paz a muito almejada...

Mas agora aparece sua mãe, que está morta, lhe dizendo que ainda não está na hora....

O garoto enxuga  as lágrimas enquanto vê sua mãe sumir floresta  adentro entre os vagos fios de de luz. O menino respira fundo, vira-se e volta pra casa.