quinta-feira, 22 de setembro de 2011

lucides perigosa

  Naquele tempo tu tinhas cheiro de sonhos e lágrimas...


Por que fui eu quem mas esperou uma resposta que nunca viria, eu estive todos os dias naquele cais, desenjando que o vento me trouxesse algo bom e fui eu quem desejou nunca ter morrido naquela tarde...

sábado, 17 de setembro de 2011

Jaune (amarelo)



E você não vinha. Então a segunda - feira já estava acabada, as vizinhas já voltavam da missa, o caminhão do lixo meus olhos já viam no fim da rua. E você não vinha.
Então na terça as ruas ficavam alagadas, a chuva machucava as asas e as pombas morriam na avenida principal.

Na quarta - feira chegava propositalmente atrasada, embalada na esperança de ver minha calçada com pegadas que coubessem nos seus pés, mas nada havia além de toda sujeira dos gatos, então eu entrava em casa, e o rádio falava de sangue, e a televisão mostrava o sangue, e o jornal avisava que o governo estava pensando em mudanças para acabar com os delinqüentes, e na rua eu os ouvia, e eles buscavam uma maneira de avisar que precisavam de um emprego, e o governo achava muito mais barato abrir jaulas no meio da selva de concreto. E você não vinha.

Na quinta-feira eu via o seu cartaz de estréia na frente do teatro, estréia na Comédie-Française, e eu me lembrava que não estava em casa, devia te esperar no continente que era cortado pelo oceano, esperar o dia em que você completaria algum número significativo de apresentações, o dia que para você não importaria esquecer quando nos esbarramos no lado mais escuro da cidade, não importaria lembrar o quanto éramos ricos em palavras e pobres em atos, te faria feliz lembrar de quando éramos dois anônimos, sentados em qualquer café rindo alto, ou em qualquer bar tentando te ensinar português enquanto ria de te ver vermelho por causa da pimenta, e você ria do leiti quenti, e eu nem tentava falar s'il vous plaît e ninguém importava, ninguém queria saber de nós, além do garçom que para você era também ''menino'' e para mim sempre foi o garçom.

Na sexta-feira eu só conseguia lembrar de maybe, maybe, maybe... Como estes sinais amarelos nos fazem pensar.


Gosto muito das coisas que essa moça escereve...

Roubei da Maria :http://borboletacarnivora.blogspot.com/


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Não vou permitir novamente que minha mão vague a tatear no vazio de um quarto escuro.


Daquela tarde eu lembro das andorinhas no quintal de casa, lembro dos teus olhos vernelhos, os pratos quebrados na pia, o resto do bolo da festa de aniversario da noite anterior, o vento que trazia a areia salgada da praia.

Da noite anterior lembro dos pés molhados e da boca seca, as nuvens nuas lá longe deitando sobre nós uma sombra de conforto e certeza de que o mundo nunca acabaria, ao menos não naquela noite, poemas sujos lidos ao bom gosto de vinhos doces e cigarros improvisados.

Lembro também das mãos suadas, da carne trêmula sob uma colcha de retalhos também vermelhos e dos teus olhos azuis que sempre me confundiam de modo a não me deixar saber se era céu ou oceano aquilo que eu via quando te olhava.


PS. De manhã eu acordei e antes de abrir os olhos eu pensei; Tomara que tudo tenha sido apenas um terrivel pesado, mas quando olhei meus pesadelos estavam lá, sentados à cabeceira da minha cama e disseram: "Bom dia menino jhonny, estavamos só te esperando pra começar..."


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Sem título ( Sugira um titulo pra esta postagem)


E os olhos dela derramavam luz na seda da minha gravata suja e amarrotada

O dia seguia sem muitas promessas, se alongando mais do que o necessário em tempos de extrema loucura e vazio.
Era cedo ainda pra sair; a luz lá fora nos cegaria e nos mandaria pra o inferno assim que um raio seu atingisse nossas retinas... A noite se recusava descer sobre nós, a escuridão teimava em não nos abraçar.
Nosso desejo era que o sol desabasse pra o outro lado da terra e por lá ficasse por muitos anos, por um sem contar de tempo... A cinza dos cigarros repousavam sobre o carpete, sobre os copos na mesa sobre nosso vidas. O cinzeiro permanecia limpo, intocado.

É claro que todos nós estávamos muito assustados ali dentro; quando será que vão arrombar as portas? Quanto tempo teríamos até que o medo, o senso de moral de quem não tem moral, destruísse tudo ao redor? Se arrepender, buscar um deus longínquo, sem rosto e imaginário seria de alguma valia na hora em que estivessem enfiando estacas nos nossos corações amaldiçoados?

A chama dos nossos olhos brilhava na penumbra daquela sala, tínhamos ali o futuro e a possibilidade do presente sem pagar nada por isso. Quando foi que porta se fechou pela ultima vez?

Quando te olhei pela ultima vez, percebi que eras a fraca sombra daquilo que conheci; os poemas, os risos, tua maquiagem, a cor da tua pele, o desejo exasperado pelo teu quadril nu, nada mais fazia sentido no momento em que te elevavas ao teu tempo de origem... Não disseste nada, com um sinal pediste um cigarro, te dei... Não me despedi, não te dei um ultimo beijo, te deixei partir.

Permaneci quieto enquanto as pessoas desapareciam uma a uma naquele principio de noite, naquele fim de vida que foi o ultima dia da alvorada deste tempo.