segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sobre a primeira vez que eu quiz dizer sim.

Era uma noite assim mais ou menos normal como todas as noites normais.
Era vespera de alguma coisa muito importantante na minha vida, alguma coisa que eu não lembro agora.

Era também o fim de um sonho e o começo de outra coisa que ainda não acabou e que também não tem nome

Eu quiz dizer, eu tentei dizer mas fiquei mudo.

Eu precisava de um tempo pra ver a vida passar.... Nada demais, nada pensar naquilo que eu perderia, ou ainda, naquilo que eu deixaria de ganhar... Eu só queria ficar jogado um pouco no sofá vendo a vida passando, deixando a tv consumir o brilho dos meus olhos.

Daquela tarde eu lembro das andorinhas no quintal de casa, lembro dos teus olhos vernelhos, os pratos quebrados na pia, o resto do bolo da festa de aniversario na noite anterior, o vento que trazia a areia salgada da praia.


"Choro toda vez que ouço poemas que falam de andorinhas... E a culpa é tua"


Da noite anterior lembro dos pés molhados e da boca seca, as nuvens nuas lá longe deitando sobre nós uma sombra de conforto e certeza de que o mundo nunca acabaria, ao menos não naquela noite, poemas sujos lidos ao bom gosto de vinhos doces e cigarros improvisados.

Lembro também duas mão suadas, da carne trêmula sob uma colcha de retalhos vernelhos e dos teus olhos azuis que sempre me confundiam de modo a não me deixar saber se era ceu ou oceano aquilo que eu via quando te olhava.

Mais tarde veio o frio, o corpo encolhido quando fomos nadar de madrugada e a festa continuava lá fora e durou os três dias..

Teve também um beijo que era o fim, teve o não conseguir pagar pelas ilusões que compramos, teve o peso da tua falta, teve minhas palavras mudas, teve o despencar do ceu do teu riso que agora não era mais pra mim; Não me iluminava mais alma nem o caminho... Então fiquei no escuro... E teus olhos cegos ficaram sem ter a quem guiar. E então os nossos acordos e nossa aliança foram quebrados pra sempre.

Neste dia vimos a besta se levantar do mar e imediatamente um incendio começou nos nossos corações e tivemos uma ideia; arrancar-lhe os chifres pra que ela perdesse o dom de enganar. E foi oque fizemos e lá da alto da cabeça da besta com os chifres nas nossa mãos vimos o grande erro que cometemos e foi triste ver doze bilhões de olhos caindo e virando petalas e borboletas de papel de ceda antes de tocarem a água salgada do mar... E depois voltamos pra os braços de uma geração que não nos aceitava apenas por que eramos diferentes, apenas por que tinhamos sonhos.

Nós vimos que o diabo não era tão feio, nós vimos tudo isso e meus olhos ainda sangram quando lembram.

Foi aprimeira cena do primeiro e ultimo ato.


Daí a vida corria mansa nos nossos corredores sem muita coisa pra fazer e dessa vez não choveu, esta foi a unica vez que não choveu em mim.

Daí a vida era apenas aquela modorra de tarde cinzentas, barcos parados na linha do horizonte sem saber pra onde navegar... Palavras violentas contra ouvidos moucos.

Daí a vida é mastigar capim e moer vidro dentro dos olhos, deixando o tempo consumir nossa juventude mas nunca nossa delicadeza.


Esta foi a primeira vez que eu quiz dizer, mas eu não disse.

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