Triste máscara solitária que um lambe-lambe uma vez tirou ali ao lado da alfândega. Esta imagem está aquém de mim, além do tempo ela desdenha da minha velhice. Meu rosto não é mais o mesmo nem minhas culpas o são.
Nunca mais.
Sobrevôo os telhados da cidade velha, não me lembro de suas historias mas sei que estão lá... Em algum canto.
A chuva furiosa
Desfeito em vozes tristes de pessoas sem nomes que vão e voltam a todo momento na avenida Presidente Vargas. São tão estranhos como qualquer um que antes eu já tenha visto.
No passado o vento me carregou pra longe e feito folha seca me deixei fugir, hoje não posso mais.
Nas ruas dos meus círios arrasto meus passos doentes e com rezas frias eu tento reconstituir pra mim um ver-peso de almoços em família e madrugadas festivas com cor de risos estridentes que vagavam além rio... Com estas mesmas rezas frias eu tendo apartar dos meus olhos o sol que descia lá longe por detrás da floresta...
Quanta solidão pode haver num final de tarde?
Quero me esquecer dum tempo em que eu poderia tudo ter feito, poderia tudo ter tido, mas não quis; me proteger da vida longe daqui, sonhos longe daqui, da fome perto daqui pois sei que aqui não é mais meu lugar e assim mesmo eu não sei como me afastar de novo.
Os pivetes, os mendigos, os vendedores de vitamina e côco da praça de republica; todos levam de mim um bocado, de todos levo o bastante pra sentir saudade daquele tempo em que viver era bastante alegre e ser alegre era o bastante. Se eu conseguisse juntar tudo isso eu seria novamente inteiro.
A rua dos anarquistas, rua dos destemidos, dos desmentidos, a rua onde todas esperanças se perdem, a rua dos cafés imaginários, dos corredores poloneses, a rua do cuíra e dos putamerda, a rua dos ladrões de sonhos, dos homens mortos, a rua dos meus pequenos prazeres sem limites... Nunca mais.
Quanta solidão pode haver em ruas vazias?
E este saudade me leva a caminhar por Belém, caminhar sem vida por aí...