sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Belém


Triste máscara solitária que um lambe-lambe uma vez tirou ali ao lado da alfândega. Esta imagem está aquém de mim, além do tempo ela desdenha da minha velhice. Meu rosto não é mais o mesmo nem minhas culpas o são.


Nunca mais.


Sobrevôo os telhados da cidade velha, não me lembro de suas historias mas sei que estão lá... Em algum canto.


A chuva furiosa em São Brás torna mais tolerável este meu canto de dor.



Desfeito em vozes tristes de pessoas sem nomes que vão e voltam a todo momento na avenida Presidente Vargas. São tão estranhos como qualquer um que antes eu já tenha visto.



No passado o vento me carregou pra longe e feito folha seca me deixei fugir, hoje não posso mais.



Nas ruas dos meus círios arrasto meus passos doentes e com rezas frias eu tento reconstituir pra mim um ver-peso de almoços em família e madrugadas festivas com cor de risos estridentes que vagavam além rio... Com estas mesmas rezas frias eu tendo apartar dos meus olhos o sol que descia lá longe por detrás da floresta...


Quanta solidão pode haver num final de tarde?



Quero me esquecer dum tempo em que eu poderia tudo ter feito, poderia tudo ter tido, mas não quis; me proteger da vida longe daqui, sonhos longe daqui, da fome perto daqui pois sei que aqui não é mais meu lugar e assim mesmo eu não sei como me afastar de novo.



Os pivetes, os mendigos, os vendedores de vitamina e côco da praça de republica; todos levam de mim um bocado, de todos levo o bastante pra sentir saudade daquele tempo em que viver era bastante alegre e ser alegre era o bastante. Se eu conseguisse juntar tudo isso eu seria novamente inteiro.


A rua dos anarquistas, rua dos destemidos, dos desmentidos, a rua onde todas esperanças se perdem, a rua dos cafés imaginários, dos corredores poloneses, a rua do cuíra e dos putamerda, a rua dos ladrões de sonhos, dos homens mortos, a rua dos meus pequenos prazeres sem limites... Nunca mais.


Quanta solidão pode haver em ruas vazias?


E este saudade me leva a caminhar por Belém, caminhar sem vida por aí...





segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Ele disse:




As coisas só expandem, se dentro de nós, nosso interior se fizerem grandes o bastante pra transceder

Transceder, essa é a palavra.

Curtes o filhos, Adoras a Entreatos e só viverás os dois tão bem e efetivamente
quando o Johhny estiver bem... Até então


eles serão Absinto pra dor

Vodka pra preocupação
Vinho pra "doce morte"





(Eu Na procura de coisas pra serem eternizadas...)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Espelho pequeno



Ele tinha o olhar tão sincero que podia-nos vergar a vista só de olhar naqueles olhos miudinhos.




Era talvez a única pessoa que nunca mentisse nesse mundo, nem sabia o que era mentira por que quando a ele se achegavam com tal intenção, bastava que ele olhasse-lhes nos olhos pra toda verdade borrar o assoalho e logo depois deitar-se em lagrimas ao som de um: “ta eu te perdôo” vindo de sua boca.



Olhos miúdos, sempre como se já fossem descansar “olhos de ver a verdade” diziam deles... E isso é muito difícil pra algumas pessoas...




Olhos de ver a verdade!




Éramos seis amigos e mais uma vez viajamos juntos pra ver o mar; gostávamos de ver o mar por que sempre dizíamos que o mar refletia nossas almas tão atormentadas por um mundo que não nos desejou, que não nos quis. É claro que hoje isso parece exagero, mas tínhamos entre quatorze e 18 anos e era assim que sempre nos sentíamos em todo lugar; como filhos de mulheres estupradas. Era sempre assim... Excerto quando em face do mar.



Desta vez em que fomos ao litoral, ele estava mais calado que de costume, estava mais calmo, mais velho do que de costume.



Chegamos a noitinha no hotel; ele subiu ao quarto e levou consigo sua mochila e seu chapéu ficamos no mesmo humilde hotel de sempre, no mesmo apertado quarto que só tinha um banheiro minúsculo e sobre uma pia, manchada de todo tipo sujeira imaginária, pendurado um minúsculo espelho que só dava mesmo pra olhar os olhos de quem estivesse ali. Como a viajem fora cansativa combinamos de descansar pra de manhã bem cedo ir à praia ver o sol nascer e acalmar nossas velhas almas olhando pro mar, pois que só mesmo o mar era mais velho que nossas velhas almas.




Acho que foi a primeira vez que o vi chorar, ele passou a noite entrando e saindo do minúsculo banheiro...




Dormi e pela manhã antes do sol nascer acordei com o despertador e vi a porta do banheiro entreaberta, achei que ele estava se preparando pra sairmos, quando vi que demorava fui ver se algo estava errado e estava. Ele havia se enforcado com o cabo do abajur.





Dizem que ele não suportou olhar dentro dos próprios olhos, dizem que ele olhou praquele espelho pequeno e viu olhos nunca antes vistos; “olhos de ver a verdade”, dizem que ele olhou nos próprios olhos e não se perdoou, dizem que ele olhou nos próprios olhos e se matou.





quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Apertando gatilhos número três

(Extravasando minha solidão pela casa vazia)





Tenho sapatos de madeira...




Em uma mão a caneta na outra um copo vazio, vazio que nem esta mente que nada encontra pela casa o que descrever, nada encontra o que eternizar...


Ando pela casa escura com lentidão e apnéia, faço muito barulho enquanto ando, meus pés são pesados e meus sapatos de madeira machucam e ferem.


A camisa aberta, mão trêmula, nariz sangrando...

Não há nada no meu caminho, no meu caminho não há nada que me possa desviar deste fim, deste destino. Eu caminho pela casa olhando pra dentro de cada quarto, caminho da direção da varanda onde um anjo cego abre os braços e as asas ra mim.


Num pensamento covarde eu me questiono; mas e se eu apertasse o gatilho hoje, agora mesmo?!

Eu pode ria mudar tudo.


Pela janela eu vejo os anjos cegos; uns sentados sobre os telhados visinhos e outros voando enfurecidos por sobre minha casa ou pairando frente à minha janela... Já vai amanhecendo e lá longe eu vejo a ultima estrela ates do sol nascer, alguns a chamam de Venus, outros de estrela Dalva, há quem a chame de lúcifer e ele não para de impor suas vontades e eu penso mais uma vez em apertar o gatilho do FODA-SE.



Mas quando eu me for quem vai limpar a casa?

Quem vai lavar as paredes?

Quem vai limpar do chão meus miolos depois que eu me for?




Numa ultima tentativa altruísta eu desisto de mudar meu destino e largo a arma e continuo andando pela casa a procura de algo que mereça ser eternizado.




(talvez um dia eu chegue à varanda)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009





Do dia, a fuga

Na noite, o delito.

No colo o calor e suor, o tremor e o suspense da sordidez da situação...

Trinacar de dentes, foto-sensibilidade momentanea, acordos quebrados.

Poemas, neorose, vontades enrrugadas e finais de semana de puro silencio.


-Ah jhonny, vá a merda!!
- Eu ja to baby, eu ja to


Sabes quantas vezes eu ja fiz este caminho?!
Agora não faço mais questão de nada, nem disso.



As vezes é bem dificil se encontrar. ( mas eu também nem faço mais questão)

sábado, 5 de dezembro de 2009

Apertando gatilhos número dois






Hoje ele acordou com vontade de olhar mais longe... Hoje ele acordou, olhou mais longe e desejou não te-lo feito.





quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Apertando gatilhos..

Amanhã, semana que vem, mês que vem, o ano novo.


Que ela ou ele digam isso ou aquilo ou até mesmo que não digam.

Que o salário melhore, que o novo presidente trabalhe direito, que o proximo telefonema nos traga boas noticias, que o plantão da TV não entre, que esta maldita crise acabe logo de uma vez, que o correio não atrase, que esta chuva gostosa não passe ou que passe logo se não for tão gostosa ssim...

Que o gáz não acabe antes de a comida ficar pronta, que a inflação caia, que nossos filhos cheguem em casa sem nenhum arranhão.



Que esta febre passe... No final das contas é assim mesmo...



"Então, quer queira, quer não, a gente fica sempre esperando alguma coisa. Do contrário, já teríamos ( todos) apertado o gatilho.




Esperando... ( por enquanto)