E  você não vinha. Então a segunda - feira já estava acabada, as vizinhas  já voltavam da missa, o caminhão do lixo meus olhos já viam no fim da  rua. E você não vinha.
Então na terça as ruas ficavam alagadas, a chuva machucava as asas e as pombas morriam na avenida principal.
      Na  quarta - feira chegava propositalmente atrasada, embalada na esperança  de ver minha calçada com pegadas que coubessem nos seus pés, mas nada  havia além de toda sujeira dos gatos, então eu entrava em casa, e o  rádio falava de sangue, e a televisão mostrava o sangue, e o jornal  avisava que o governo estava pensando em mudanças para acabar com os  delinqüentes, e na rua eu os ouvia, e eles buscavam uma maneira de  avisar que precisavam de um emprego, e o governo achava muito mais  barato abrir jaulas no meio da selva de concreto. E você não vinha.
      Na  quinta-feira eu via o seu cartaz de estréia na frente do teatro,  estréia na Comédie-Française, e eu me lembrava que não estava em casa,  devia te esperar no continente que era cortado pelo oceano, esperar o  dia em que você completaria algum número significativo de apresentações,  o dia que para você não importaria esquecer quando nos esbarramos no  lado mais escuro da cidade, não importaria lembrar o quanto éramos ricos  em palavras e pobres em atos, te faria feliz lembrar de quando éramos  dois anônimos, sentados em qualquer café rindo alto, ou em qualquer bar  tentando te ensinar português enquanto ria de te ver vermelho por causa  da pimenta, e você ria do leiti quenti, e eu nem tentava falar s'il vous plaît  e ninguém importava, ninguém queria saber de nós, além do garçom que  para você era também ''menino'' e para mim sempre foi o garçom.
     Na sexta-feira eu só conseguia lembrar de maybe, maybe, maybe... Como estes sinais amarelos nos fazem pensar.
Gosto muito das coisas que essa moça escereve...
Roubei da Maria :http://borboletacarnivora.blogspot.com/