terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Cor e culpa

Ao lado do prédio onde ela morava, numa rua esquecida dalgum lugar que não parece em mapa algum, havia uma pintura na parede. Aquilo era pra ela tanto enigmático quanto simples. Ela passava horas do dia olhando para aquela parede, não se alimentava, não pensava na vida. Um dia um anjo enorme desceu sobre sua cabeça num sonho torpe que ela teve depois de passar o dia olhando para aquela imagem. Esse anjo carregava nos braços uma criança morta e ela soube de uma maneira bem escrota, que ela era aquela criança. Mas como? Se lá estava ela vivendo, andando pelas ruas e olhando a si morta nos braços de um anjo, como? Naquele dia ela teve febre o dia inteiro. Vomitou pedaços de seu estomago que em seguida plena de desespero e tentava engolir como a tentar emendar uma coisa que já estava praticamente morta. Ela comeu e vomitou a si mesma por horas. Os vizinhos acudiram, deram-lhe de beber, acho que pra se sentirem menos culpados por não terem ajudado logo. Ela dormiu quando a noite chegou e pela manha o corpo havia desaparecido. Nem rastro, nenhuma pista de pra onde ela teria ido ou teria sido carregada. Pra surpresa de todos, ela estava pintada na parede que tanto admirava. Estava bela, sem sofrimento, sem dor. E esta alegria ali pintada na parede acusava a todo e todos passaram muitos anos calados, se coragem pra olhar para aquela pintura na parede.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Tão bonita manhã

Aquele vidro mínimo de perfume caiu e se quebrou bem próximo dos meus pés, ele ja estava guardado ali a pelo menos treze anos. Não sei bem por que eu ainda o tinha guardado (pensando bem eu sei sim) o fato e que aquele minusculo frasco de perfume, de cor amarela  e com uma inscrição em fracês, inpronunciavel para alguém como eu, remonta a tempos de pura delicadeza, onde um gesto era apenas um gesto e uma promessa tinha força e sinceridade pra durar uma avida inteira!

A muito decidi não joga-lo fora, me desfiz de tudo menos dele. Exatamente por que ele me trazia a lembrança dum colo quente, duma nuca gostosa de beijar e da pele cheirosa e completamente arrepiada sempre que eu fazia isso.

Agora ele está ali quebrado, em talvez, minhões de indecifráveis partículas... E cada partícula invisível é um beijo, cada átomo girando dentro da matéria é um motivo, o atrito freia minha vontade de esquecer...  Ouço o barulho de vidro se quebrando e desperto do desse vórtici de lembranças, na lembrança de uma gargalhada.

E justamente agora que eu já tinha esquecido aquele cheiro...

'Ne vous aime pas plus, bébé'  acho que foi isso que ela disse e ao perceber que entendia, um pedacinho da minha alma se desprendeu de mim e voou na direção do infinito...

Dou um passo pra trás e corto meu pé num pedaço de vidro, um pouco de sangue suja o assoalho - "Muito apropriado, foi assim sempre..."  - Penso alto, antes de rir com certo sarcasmo.


Eu não merecia lembrar de tudo isso de novo...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A vida é cheia de som e fúria - 2


Seria crime perguntar por que o amor acabou?



Se eu pudesse mudar isso em que eu me transformei, eu não faria, mesmo agora e com tudo isso!
Quando uma pessoa se apaixona, ou ama ela entra num sono mórbido, torpe que a faz cair, cair e cada vez mais pra dentro de sim. ela tem então a chance de se conhecer ou ao contrário disso se esconder e assimilar a  máscara do outro e isso é uma merda! Primeiro por que isso não é uma opção; qualquer uma dessas coisas é jogado no colo de quem se apaixona e não se pode escolher entre uma ou outra. Na maioria das vezes, tu nem sabes oque ta acontecendo! E tu vais caindo e tentando se agarrar sempre que tuas mãos e pernas  batem em qualquer coisa, as vezes são folhas. as vezes fardos, os quais, na maioria das vezes, tu nem precisas mas não sabendo direito pra onde caminhas, ou cais, vai te agarrando e tumultuando tudo.... As vezes levando um monte de gente junto. Gente que já estava em processo de recomposição... E isso é ruim por que se reorganizar leva tempo.


(....)


Eu sei que aos olhos daqueles que nunca amaram, isso tudo pareceria infâmia, covardia e tantos outros nomes que eles adoram usar e usam ( eles devem ter uma lista enorme...) quando encontram, de tempos em tempos, o seu judas social. Eles precisam dessa merda. Mas eu vou te dizer uma coisa: eu vivi essa merda toda com todo o vigor, estive bem próximo disso que eu sou e me olhei de frente sem medo, sem piscar, sem olhar pra trás, eu estive lá, de frente pra tempestade  e me desgastei com a  solidez tenaz de uma rocha que solitária enfrenta o mar e espera o barco. Eu não menti, eu não cruzei os braços diante de certas covardias, de certas injustiças, eu me enfrentei. Eu não participei dessa mentira. Eu vivi o amor na forma mais crua que ele possa se oferecer! não esse amor de mentirinha, dos contos de fadas, da bíblia. Não esse amor que ilude, e que ao contrário do seu propósito, se tornou a grande panaceia da humanidade, se tonou "essa grande ilusão social que é a unica coisa que impede que eu e tu arranquemos com as mão e comamos as tripas um do outro". Eu renunciei a toda essa bosta quando eu resolvi olhar pro rio que se formou dentro da minha alma quando eu descobri que te amava.

Seria crime não entender por que ele acabou, pois ele morreu bem ali na minha frente... Sufocado entre os dedos das minhas mãos.

Mas eu tenho lembranças das quais eu nunca vou abrir mão;  As três letras do teu nome, Chat Baker se arrastando pela porta entreaberta, o teu sexo molhado, tua fome pela vida, toda a magia que envolvia aquela sala, o teu gosto pela música, a força incalculável do teu riso, tua vontade exagerada,  o timbre da tua voz no escuro...


"O cão ouviu nossos sussurros na madrugada e latiu"



Jhonny Russel