sábado, 25 de fevereiro de 2012

Tão bonita manhã

Aquele vidro mínimo de perfume caiu e se quebrou bem próximo dos meus pés, ele ja estava guardado ali a pelo menos treze anos. Não sei bem por que eu ainda o tinha guardado (pensando bem eu sei sim) o fato e que aquele minusculo frasco de perfume, de cor amarela  e com uma inscrição em fracês, inpronunciavel para alguém como eu, remonta a tempos de pura delicadeza, onde um gesto era apenas um gesto e uma promessa tinha força e sinceridade pra durar uma avida inteira!

A muito decidi não joga-lo fora, me desfiz de tudo menos dele. Exatamente por que ele me trazia a lembrança dum colo quente, duma nuca gostosa de beijar e da pele cheirosa e completamente arrepiada sempre que eu fazia isso.

Agora ele está ali quebrado, em talvez, minhões de indecifráveis partículas... E cada partícula invisível é um beijo, cada átomo girando dentro da matéria é um motivo, o atrito freia minha vontade de esquecer...  Ouço o barulho de vidro se quebrando e desperto do desse vórtici de lembranças, na lembrança de uma gargalhada.

E justamente agora que eu já tinha esquecido aquele cheiro...

'Ne vous aime pas plus, bébé'  acho que foi isso que ela disse e ao perceber que entendia, um pedacinho da minha alma se desprendeu de mim e voou na direção do infinito...

Dou um passo pra trás e corto meu pé num pedaço de vidro, um pouco de sangue suja o assoalho - "Muito apropriado, foi assim sempre..."  - Penso alto, antes de rir com certo sarcasmo.


Eu não merecia lembrar de tudo isso de novo...

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