terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Cor e culpa

Ao lado do prédio onde ela morava, numa rua esquecida dalgum lugar que não parece em mapa algum, havia uma pintura na parede. Aquilo era pra ela tanto enigmático quanto simples. Ela passava horas do dia olhando para aquela parede, não se alimentava, não pensava na vida. Um dia um anjo enorme desceu sobre sua cabeça num sonho torpe que ela teve depois de passar o dia olhando para aquela imagem. Esse anjo carregava nos braços uma criança morta e ela soube de uma maneira bem escrota, que ela era aquela criança. Mas como? Se lá estava ela vivendo, andando pelas ruas e olhando a si morta nos braços de um anjo, como? Naquele dia ela teve febre o dia inteiro. Vomitou pedaços de seu estomago que em seguida plena de desespero e tentava engolir como a tentar emendar uma coisa que já estava praticamente morta. Ela comeu e vomitou a si mesma por horas. Os vizinhos acudiram, deram-lhe de beber, acho que pra se sentirem menos culpados por não terem ajudado logo. Ela dormiu quando a noite chegou e pela manha o corpo havia desaparecido. Nem rastro, nenhuma pista de pra onde ela teria ido ou teria sido carregada. Pra surpresa de todos, ela estava pintada na parede que tanto admirava. Estava bela, sem sofrimento, sem dor. E esta alegria ali pintada na parede acusava a todo e todos passaram muitos anos calados, se coragem pra olhar para aquela pintura na parede.

2 comentários:

Adrianna Coelho disse...


hum... e fiz um poema
sobre uma pintura... :)

é, meu querido amigo, vc acabou de me dar uma ideia: é melhor que apareça pintada numa parede, assim como ela.

p.s. adorei o indissolúvel, cadê, se dissolveu?

Jhonny Russel disse...

Me mostra depois a ideia (Ainda não tem como saber...)