A cidade estava afogada em jazz. Que ritmo mais louco pra uma despedida. Melhor que tango, melhor que qualquer coisa... Seria não ter de despedir.
Um céu muito escuro, os cabelos ruivos ainda molhados e ela indo embora entrando no corredor que dá pra sala de embarque do aeroporto de Val de Cães em Belém.
Não sei por que me veio “Belle and sebastian” à cabeça... Assovio uma estrofe... (aliás, eu sei sim por que me veio à cabeça...)
Pensei comigo: ”que bom que ela conseguiu se desprender de tudo isso aqui, agente sempre quis ir embora... É legal que ao menos um de nós tenha conseguido.” ( e tive de engolir o ranço ao ver que o outro de nós, o que fica, sou eu)
Antes de sumir totalmente no corredor ela ainda virou pra me olhar como a dizer: ”Vamos, volta atrás nessa tua decisão cara... vamos nos dar uma nova oportunidade”. Lembrei-me de uma guitarrada doida, tipo BB king...
A boca tava seca, bebi a noite toda pra não ter condições físicas nem morais pra me levantar naquela manhã e, no entanto, lá estava eu pra tentar gravar no metal dos meus olhos ainda talvez um ultimo sorriso.
Mas me vem na cabeça toda a cagada que foi, todo o processo... Eu precisei de mais de um ano pra me recuperar. “Melhor não meu bem” – Foram as minhas ultimas palavras ao telefone na nossa ultima conversa dias antes de ela entrar naquele avião.
Pensei, bem que pode ria chover agora e como por encanto, ela (a chuva) começou a cair sobre a pista de pouso e decolagem. Ri por dentro.
Nas minhas histórias sempre há chuva, nos momentos tristes, mas principalmente nos momentos felizes, acho mesmo que chuva combina com tudo na vida. Igual a café.
Ainda fiquei muito tempo ali ouvindo o jazz que saía das turbinas dos aviões, dos passos apressados das pessoas, das descargas dos automóveis e na hora e que o avião se distanciava pra sempre dos meus objetivos de vida, eu pude ver uma chuva de beijos e saudade caindo sobre a minha cidade.
Não sei o que me doeu mais.
Aliás, eu sei sim.
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